sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019


Cultura Digital por Deise Pires da Silva


Cultura Digital é um conceito cada vez mais presente no mundo recente, uma vez que se relaciona com a forma como a sociedade se apropria culturalmente das tecnologias e interfaces digitais, como um elemento transformador e cada vez mais impactante na maneira como ocorre a comunicação nesta era da informação. A alta velocidade e a comodidade de estar conectado a uma rede vêm alterando profundamente as relações sociais e tem causado profundas rupturas em nossa sociedade pós-industrial, inclusive nos meios de ensino aprendizagem.  

Assim começa a serem discutidas e estudadas formas de inserir estas mudanças também ao ambiente de aprendizado, seja através da inclusão de tecnologias, na mudança no papel do professor, bem como na mudança da dinâmica de ensino/aprendizado, que nesta fase caminham para uma cultura extremamente participativa e colaborativa, trazendo a tona outros conceitos: a inteligência coletiva e a de convergência de meios, que prevê que os saberes e conhecimentos são construídos de modo dinâmico com a participação mútua dos usuários e abordagem do mesmo tema de diferentes formas através de mídias e plataformas diferentes.

Segundo Pierre Levy, estudioso e defensor da humanização da Cibercultura, apesar do “ciberespaço” ter se tornado cada vez mais comercializável, é necessário também observar um crescimento considerável de serviços, aplicativos e plataformas de alta performance gratuitas aplicadas a melhoria da vida diária. Isso por sua vez, demonstra uma tendência irreversível do ponto de vista da necessidade de adaptação e utilização destes meios, uma vez que criam-se cada dia mais opções de inserção de tais aparatos no cotidiano, inclusive no meio “escolar”.

[...] A hipótese que levanto é que a cibercultura leva a co-presença das mensagens de volta ao seu contexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala, em uma orbita completamente diferente. A nova universalidade não depende mais da autossuficiência dos textos, de uma fixação e de uma independência das significações. Ela se constrói e se estende por meio da interconexão das mensagens entre si, por meio de sua vinculação permanente entre as comunidades virtuais em criação, que lhe dão sentidos variados em uma renovação permanente.  (LEVY, 1999, p. 15)

Como consequência a esta dinâmica, pode-se afirmar que não há mais apenas uma resposta correta, os desafios passam a ser solucionados coletivamente mediante a participação em redes, inclusive através da incorporação de novas formas de aprendizado online que explorem e permitam aos discentes experiências e sensações que tornem o aprendizado mais completo e colaborativo, uma vez que as interfaces e os meios de propagação de cultura trabalham a informação de forma diferenciada, incorporando e reforçando o conceito de Inteligência Coletiva sob o ponto de vista de Pierre Levy.

Neste contexto, o desenvolvimento social e cultural de uma sociedade e do próprio ser humano passa pelo trabalho em equipe, e pela efêmera participação de todos os interessados, onde são usados os múltiplos conhecimentos dos indivíduos a fim de um objetivo comum, com o auxilio da tecnologia da informação e comunicação. Segundo Levy(1999), ainda não é possível prever quais implicações que essa realidade trará a longo prazo, sobre as significações socioculturais, comportamentais e mesmo “cibertecnológicas” devido à amplitude e ritmo destas transformações.

Nesta realidade não é mais possível aguardar e observar passivamente. Na metade do anos 90 o cantor Gilberto Gil, já abordava suas expectativas sobre os avanços da rede em sua musica “Pela Internet”. Nesta primeira versão traz a tona a representação da cultura da época que ansiava pelo principio da conectividade presente na globalização da rede, contudo sem ainda imaginar como seria este processo.


Duas décadas depois, novamente Gilberto Gil, lança “Pela Internet 2”, onde aborda a nova realidade, revelando a quanto já avançou-se na conexão com a rede, abordando a diversidade de aplicativos de comunicação, e ressaltando a  grande dependência social as tecnologias e a própria rede em si em todas as esferas da vida cotidiana. Ao mesmo passo em que a internet te possibilita liberdade de chegar, conhecer e aprender coisas que não seria possível sem ela, ela foi crescendo, se desenvolvendo e envolvendo as pessoas de tal forma que gerou um "aprisionamento", pois realmente sem ela e sem a tecnologia que a acompanha, muitas coisas não são possíveis, e fora da rede é como se você deixasse de existir.

Ainda nesta musica, Gilberto Gil aborda uma mudança muito importante; a conectividade te deixa a mercê de tudo que ocorre no mundo virtual, independente de proximidade geográfica, inclusive os ataques cibernéticos.


Segundo Bembem e Santos(2013) o conceito de Levy sobre a inteligência coletiva busca transpor as barreiras físicas e transformar o saber na base principal das relações humanas, complementando-as percebe-se que os conceitos abordados se interceptam, interconectam e se inter relacionam, sendo complementares entre si, porém apoiados na valorização de cada individuo, na construção continua e constante de saberes e na sua troca de experiências. Isso nos instiga a pensar e imaginar quais as consequências para a formação das sociedades futuras e dos futuros cidadãos, no campo profissional e educacional, uma vez que interfere profundamente em nossos relacionamentos, em nosso trabalho, em nossa intimidade, em nossa forma de aprender. Como será ? 


REFERENCIAS

LEVY, Pierre. Cibercultura. Tradução Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed 34, 1999. Versão Digital. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=7L29Np0d2YcC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false>.  Acessado em 14 de fevereiro de 2019.

BEMBEM, Angela H.C.; SANTOS, Placida L.A.C. Inteligência coletiva: um olhar sobre a produção de Pierre Lévy. Perspectivas em Ciência da Informação, v.18, n.4, p.139-151, out./dez. 2013. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/pci/v18n4/10.pdf > Acessado em 15 de fevereiro de 2019.


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