Cultura Digital por Deise Pires da Silva
Cultura
Digital é um conceito cada vez mais presente no mundo recente, uma vez que se
relaciona com a forma como a sociedade se apropria culturalmente das
tecnologias e interfaces digitais, como um elemento transformador e cada vez
mais impactante na maneira como ocorre a comunicação nesta era da informação. A
alta velocidade e a comodidade de estar conectado a uma rede vêm alterando
profundamente as relações sociais e tem causado profundas rupturas em nossa
sociedade pós-industrial, inclusive nos meios de ensino aprendizagem.
Assim
começa a serem discutidas e estudadas formas de inserir estas mudanças também
ao ambiente de aprendizado, seja através da inclusão de tecnologias, na mudança
no papel do professor, bem como na mudança da dinâmica de ensino/aprendizado,
que nesta fase caminham para uma cultura extremamente participativa e
colaborativa, trazendo a tona outros conceitos: a inteligência coletiva e a de
convergência de meios, que prevê que os saberes e conhecimentos são construídos
de modo dinâmico com a participação mútua dos usuários e abordagem do mesmo
tema de diferentes formas através de mídias e plataformas diferentes.
Segundo
Pierre Levy, estudioso e defensor da humanização da Cibercultura, apesar do “ciberespaço”
ter se tornado cada vez mais comercializável, é necessário também observar um crescimento
considerável de serviços, aplicativos e plataformas de alta performance gratuitas
aplicadas a melhoria da vida diária. Isso por sua vez, demonstra uma tendência irreversível
do ponto de vista da necessidade de adaptação e utilização destes meios, uma
vez que criam-se cada dia mais opções de inserção de tais aparatos no
cotidiano, inclusive no meio “escolar”.
[...]
A hipótese que levanto é que a cibercultura leva a co-presença das mensagens de
volta ao seu contexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala,
em uma orbita completamente diferente. A nova universalidade não depende mais
da autossuficiência dos textos, de uma fixação e de uma independência das
significações. Ela se constrói e se estende por meio da interconexão das
mensagens entre si, por meio de sua vinculação permanente entre as comunidades
virtuais em criação, que lhe dão sentidos variados em uma renovação permanente. (LEVY, 1999, p. 15)
Como
consequência a esta dinâmica, pode-se afirmar que não há mais apenas uma
resposta correta, os desafios passam a ser solucionados coletivamente mediante
a participação em redes, inclusive através da incorporação de novas formas de
aprendizado online que explorem e permitam aos discentes experiências e
sensações que tornem o aprendizado mais completo e colaborativo, uma vez que as
interfaces e os meios de propagação de cultura trabalham a informação de forma
diferenciada, incorporando e reforçando o conceito de Inteligência Coletiva sob
o ponto de vista de Pierre Levy.
Neste
contexto, o desenvolvimento social e cultural de uma sociedade e do próprio ser
humano passa pelo trabalho em equipe, e pela efêmera participação de todos os interessados,
onde são usados os múltiplos conhecimentos dos indivíduos a fim de um objetivo
comum, com o auxilio da tecnologia da informação e comunicação. Segundo Levy(1999),
ainda não é possível prever quais implicações que essa realidade trará a longo prazo,
sobre as significações socioculturais, comportamentais e mesmo “cibertecnológicas”
devido à amplitude e ritmo destas transformações.
Nesta
realidade não é mais possível aguardar e observar passivamente. Na metade do
anos 90 o cantor Gilberto Gil, já abordava suas expectativas sobre os avanços
da rede em sua musica “Pela Internet”. Nesta primeira versão traz a tona a
representação da cultura da época que ansiava pelo principio da conectividade presente
na globalização da rede, contudo sem ainda imaginar como seria este processo.
Duas
décadas depois, novamente Gilberto Gil, lança “Pela Internet 2”, onde aborda a
nova realidade, revelando a quanto já avançou-se na conexão com a rede,
abordando a diversidade de aplicativos de comunicação, e ressaltando a grande dependência social as tecnologias e a própria
rede em si em todas as esferas da vida cotidiana. Ao mesmo passo em que a
internet te possibilita liberdade de chegar, conhecer e aprender coisas que não
seria possível sem ela, ela foi crescendo, se desenvolvendo e envolvendo as
pessoas de tal forma que gerou um "aprisionamento", pois realmente sem ela e sem
a tecnologia que a acompanha, muitas coisas não são possíveis, e fora da rede é
como se você deixasse de existir.
Ainda
nesta musica, Gilberto Gil aborda uma mudança muito importante; a conectividade te
deixa a mercê de tudo que ocorre no mundo virtual, independente de proximidade geográfica,
inclusive os ataques cibernéticos.
Segundo Bembem e Santos(2013) o conceito de Levy sobre a inteligência coletiva busca transpor as barreiras físicas e transformar o saber na base principal das relações humanas, complementando-as percebe-se que os conceitos abordados se interceptam, interconectam e se inter relacionam, sendo complementares entre si, porém apoiados na valorização de cada individuo, na construção continua e constante de saberes e na sua troca de experiências. Isso nos instiga a pensar e imaginar quais as consequências para a formação das sociedades futuras e dos futuros cidadãos, no campo profissional e educacional, uma vez que interfere profundamente em nossos relacionamentos, em nosso trabalho, em nossa intimidade, em nossa forma de aprender. Como será ?
REFERENCIAS
LEVY, Pierre. Cibercultura.
Tradução Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed 34, 1999. Versão Digital.
Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=7L29Np0d2YcC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false>.
Acessado em 14 de fevereiro de 2019.
BEMBEM,
Angela H.C.; SANTOS, Placida L.A.C. Inteligência coletiva: um
olhar sobre a produção de Pierre Lévy. Perspectivas em Ciência da Informação,
v.18, n.4, p.139-151, out./dez. 2013. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/pci/v18n4/10.pdf
> Acessado em 15 de fevereiro de 2019.
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