segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Cultura Digital por Carlos Alberto de Souza


Se entendermos a cultura como "todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade ” (Edward B. Tylor), podemos entender que cultura digital inclui todas essas questões construídas e experiências compartilhadas no ambiente digital.

A cultura digital, como o próprio nome diz, é a união do cultural com o digital e é muito importante na criação, distribuição e divulgação das informações nos dias de hoje.

Com o acesso instantâneo a todo tipo de informação, é possível compartilhar experiências e participar da construção do conhecimento através da internet, comunicar-se com pessoas de qualquer lugar do mundo. Isso possibilita a interatividade, a interferência e a colaboração com a produção intelectual, gerando uma nova forma de comunicação e aprendizado.
JENKINS (2009) refere-se à cultura de convergência como sendo o “fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam”.

Ainda de acordo com este autor, “a cultura da convergência está interligada com a cultura participativa e com a inteligência coletiva, pois não designa apenas uma mudança tecnológica, mas um processo com aspectos culturais, sociais e mercadológicos que ocorre essencialmente nas interações entre os sujeitos”.

Howard Rheingold (2012) fala de uma cultura participativa, em que uma parcela significativa da população pode participar da produção de materiais culturais. Ele enfatiza o empoderamento sem precedentes que o know-how digital pode conceder, criando um senso de pertença e participação nos usuários. Possibilita aos internautas adquirir habilidades para se envolver na vida cívica de suas comunidades, construindo uma cultura mais democrática e diversificada. A recompensa pode vir ainda com um emprego, um companheiro, ou mesmo, a venda de um produto ou serviço.
O conceito da inteligência coletiva foi criado a partir de alguns debates realizados por Pierre Lévy relacionados às tecnologias da inteligência. Caracteriza-se pela nova forma de pensamento sustentável através de conexões sociais que se tornam viáveis pela utilização das redes abertas de computação da internet. Para Lévy (2003), a inteligência coletiva é aquela que se distribui entre todos os indivíduos, que não está restrita para poucos privilegiados. O saber está na humanidade e todos os indivíduos podem oferecer conhecimento; não há ninguém que seja nulo nesse contexto. Por essa razão, o autor afirma que a inteligência coletiva deve ser incessantemente valorizada. Deve-se procurar encontrar o contexto em que o saber do indivíduo pode ser considerado valioso e importante para o desenvolvimento de um determinado grupo.

Nas duas composições de Gilberto Gil sobre o uso dos recursos da Internet, ao compará-las, percebe-se nitidamente uma ampliação dos recursos para navegação na rede mundial. No primeiro momento, Gil faz menção aos recursos disponíveis para uso e navegação na internet, bem mais limitados do que os recursos disponíveis 20 anos depois. Na primeira composição, observa-se que a capacidade de armazenamento das mídias digitais era bastante limitada se comparada com a capacidade atual. O acesso à internet estava quase que exclusivamente limitado ao uso do computador. Se o desejo era a música, tínhamos que nos contentar com as gravações em CDs. Vinte anos depois, as músicas estão disponíveis em mídia digital, podendo-se adquiri-las online a partir de uma loja digital. Antes a comunicação se dava principalmente por e-mail. Agora, a tendência é de as pessoas interagirem quase que exclusivamente por meio de aplicativos de mensagens instantâneas, tornando a comunicação e o compartilhamento de conteúdo muito mais rápidos e eficaz. Esta ampliação de recursos digitais sem dúvida alguma contribui de forma significativa para a convergência de mídia, uma vez que incentiva as pessoas a buscar informações em diversos meios e, a partir deles, criar conexões.

Quando Pierre Levy fala de cibercultura, ele está falando de novas práticas e novos costumes que surgem com a adoção ou a inserção no nosso cotidiano dessas tecnologias.
Criar perfis, enviar e-mails e entrar em um chat, emitir e compartilhar, todo esse universo, esse campo, esse vocabulário faz parte dessa nova cultura, que Pierre Levy denomina de cibercultura. 

Pierre Levy destaca três características fundamentais que nos permitem compreender toda a dinâmica e funcionamento da internet.

Primeiro ele deixa bem claro que a internet obedece a uma lógica que é a lógica da interconexão. De uma forma ou de outra, todos temos acesso a todas as pessoas que de alguma forma atuam na internet.

Outra característica bastante importante é a formação de comunidades. Segundo Levy, da mesma forma que nós atuamos num mundo real, num mundo físico, ao ingressarmos na internet nós formamos comunidades. Formamos grupos que partem dos mesmos interesses   e afinidades.

A terceira característica é o que Pierre Levy chama de Inteligência Coletiva. Na visão de Levy, a IC se processa da seguinte forma: quando acessamos a internet, nós estamos levando a nossa bagagem de conhecimento, a nossa bagagem de cultura. Além disso, nós temos a possibilidade de acessar conteúdos que são extremamente variados e que antes só estavam disponíveis fisicamente nos livros ou nas salas de aula, nos museus e bibliotecas.

Hoje, com as novas tecnologias, temos a facilidade de visitar inúmeras bibliotecas e museus. Temos a possibilidade de assistir palestras e aulas, bem como o acesso a uma série de conteúdos de artigos científicos sem sair de nossa casa.

A Inteligência Coletiva a que Pierre Levy se refere é essa possibilidade ampla de compartilhamento de conteúdo que está à nossa disposição, sendo acrescentado e agregado aos conteúdos todos os dias.
Pierre Levy defende que a internet deve ser utilizada como ferramenta para a democratização do saber e que a internet deve ser utilizada como uma aliada da educação. Na visão deste filósofo, não dá para conceber a educação sem o uso desse recurso que faz parte do nosso cotidiano e que deve ser utilizado em favor da sociedade.

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