Cultura Digital
Estamos
vivendo a era digital, nos encontramos em meio às tecnologias digitais, dormimos
e acordamos dependentes do bom funcionamento do mundo digital.
Embora
estejamos inseridos no mudo digital, o conceito de cultura digital ainda é
amplo e não está consolidado. Aproxima-se de outros conceitos como sociedade da
informação, cibercultura, revolução digital, era digital, sempre relacionados às
relações humanas, mediadas por tecnologias
e comunicações digitais.
De acordo
com autores, pensadores e ativistas, o surgimento da cultura digital é demarcado
no pós-guerra, quando tem início o processo de digitalização, materializado no
ambiente de processamento de dados que passa a ser dominado por grandes
máquinas de computar.
O
conceito de cibercultura e inteligência coletiva desenvolvido por Pierre Lévy,
sintetiza muito bem este momento, no qual o compartilhamento dos saberes,
percepções, imaginação, criatividade e demais habilidades individuais permitem
o aprendizado coletivo, construindo novos conhecimentos.
O
sociólogo espanhol Manuel Castells, em dossiê publicado pela revista Telos,
mantida pela Fundación Telefónica, define a cultura digital em seis tópicos:
1.
Habilidade para comunicar ou mesclar qualquer produto baseado em uma linguagem
comum digital;
2.
Habilidade para comunicar desde o local até o global em tempo real e,
vice-versa, para poder diluir o processo de interação;
3.
Existência de múltiplas modalidades de comunicação;
4.
Interconexão de todas as redes digitalizadas de bases de dados ou a realização
do sonho do hipertexto de Nelson com o sistema de armazenamento e recuperação
de dados, batizado como Xanadú, em 1965;
5.
Capacidade de reconfigurar todas as configurações criando um novo sentido nas
diferentes camadas dos processo de comunicação;
6.
Constituição gradual da mente coletiva pelo trabalho em rede, mediante um
conjunto de cérebros sem limite algum. Neste ponto, me refiro às conexões entre
cérebros em rede e a mente coletiva.
Os
pesquisadores e ativistas Bianca Santana e Sergio Amadeu da Silveira durante a participação
do Seminário Internacional de Diversidade Cultural sistematizaram um texto que
conceitua cultura digital:
“Reunindo
ciência e cultura, antes separadas pela dinâmica das sociedades industriais,
centrada na digitalização crescente de toda a produção simbólica da humanidade,
forjada na relação ambivalente entre o espaço e o ciberespaço, na alta
velocidade das redes informacionais, no
ideal de interatividade e de liberdade recombinante, nas práticas de simulação,
na obra inacabada e em inteligências coletivas, a cultura digital é uma
realidade de uma mudança de era. Como toda mudança, seu sentido está em
disputa, sua aparência caótica não pode esconder seu sistema, mas seus
processos, cada vez mais auto-organizados e emergentes, horizontais, formados
como descontinuidades articuladas, podem ser assumidos pelas comunidades
locais, em seu caminho de virtualização, para ampliar sua fala, seus costumes e
seus interesses. A cultura digital é a cultura da contemporaneidade”.
Gilberto Gil, quando esteve à frente do Ministério
da Cultura, participou de inúmeros eventos voltados à discussão da cultura
forjada pelas redes interconectadas, pelos recursos digitais. Em uma de suas
falas mais marcante, proferida
na Universidade de São Paulo, Gil tentou conceituar o que seria a cultura
digital:
“Novas e
velhas tradições, signos locais e globais, linguagens de todos os cantos são
bem-vindos a este curto-circuito antropológico. A cultura deve ser pensada
neste jogo, nessa dialética permanente entre tradição e invenção, nos
cruzamentos entre matrizes muitas vezes milenares e tecnologias de ponta, nas
três dimensões básicas de sua existência: a dimensão simbólica, a dimensão de
cidadania e inclusão, e a dimensão econômica. Atuar em cultura digital
concretiza essa filosofia, que abre espaço para redefinir a forma e o conteúdo
das políticas culturais, e transforma o Ministério da Cultura em ministério da
liberdade, ministério da criatividade, o ministério da ousadia, ministério da
contemporaneidade. Ministério, enfim, da Cultura Digital e das Indústrias
Criativas. Cultura digital é um conceito novo. Parte da ideia de que a
revolução das tecnologias digitais é, em essência, cultural. O que está
implicado aqui é que o uso de tecnologia digital muda os comportamentos. O uso
pleno da Internet e do software livre cria fantásticas possibilidades de
democratizar os acessos à informação e ao conhecimento, maximizar os potenciais
dos bens e serviços culturais, amplificar os valores que formam o nosso
repertório comum e, portanto, a nossa cultura, e potencializar também a
produção cultural, criando inclusive novas formas de arte”.
É impossível negar a
presença da digitalização em nossas vidas. A priori, é sem dúvida, sinônimo de
praticidade, agilidade, precisão... e
realmente o é. É perceptível que a digitalização facilitou a vida de todos, nos
mais variados aspectos. O que não fica de imediato explícito é o seu lado
nocivo. Focamos primeiramente no imediato conforto e rapidez com que
conseguimos os bons resultados em decorrência da informatização/digitalização.
Tomando como exemplo a
área da Educação, é bastante nítida a transformação. Estudantes expostos à era
digital a todo momento conseguem não manter o foco no aprender, e sim, na busca
de muitas informações e que no final não
as processam de forma a transformá-las em conhecimento. Parece ter se
tornado necessário ensinar em sala de aula com recursos tecnológicos e passou-se a entender
que as práticas metodológicas estão relacionadas ao uso das tecnologias. O que nos
preocupa um pouco é que cada vez mais temos jovens distanciados da leitura e da
prática do escrever corretamente. Se impedidos de acessar os aparelhos digitais,
muitos se “perdem”, ficando sem saber como proceder para relatar, redigir e
compor um texto bem escrito sem um corretor virtual.
Se observarmos o âmbito
das relações humanas, também nos deparamos com uma situação bastante
controversa. Ao mesmo passo que a era digital nos permite acesso a informações
acerca de pessoas distantes, notícias na hora em que o fato acontece, rapidez
nos recados, também percebemos que as relações de pessoas próximas tem sido
afetadas. Exemplo disso são as amizades virtuais, o namoro virtual, o comércio
virtual. É de todo ruim? Não necessariamente, mas sem dúvida uma forma de
dispensar a aproximação afetiva, o toque, o olhar, a sensibilidade humana, a
observação do detalhe, a oportunidade da percepção e o melhor conhecimento do caráter
e sentimento do outro.
Assim como a cultura
digital inclui, ela também procede de forma excludente. Quando pessoas mais
velhas que não tiveram acesso à instrução deparam-se com situações tecnológicas. Nem todos são
contemplados pela facilidade que a digitalização pode oferecer. Carros
modernos, máquinas modernas digitalizadas. Muitos ainda não sabem como proceder
para fazer uso, então se expostos a estas realidades, ocorre certa forma de
exclusão. Além disso, muitas pessoas até utilizam os recursos digitais, mas não
de forma correta, podendo tornar-se um inconveniente. Podemos citar aqui a evolução
da letra da música de Gil “internet 2” evolução e transformação.
Enfim, negar a presença
da era digital, da cultura digital que se faz presente e se intensifica cada
vez mais é impossível. O que resta é saber utilizá-la, buscar aperfeiçoar-se e
ter limite de seu uso, ou seja, saber até que ponta ela traz benefícios e o que
ela pode atrapalhar no processo de vida e de todas as atividades humanas.
Eu com onze anos de
idade mal sabia usar um telefone, o principal meio de comunicação era o rádio, vinte
anos se passaram e hoje as inúmeras ferramentas digitais nos permitem compartilhar
conhecimentos e informações diariamente.
Mirian Giacomel
Polo São Miguel do Oeste
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