domingo, 17 de fevereiro de 2019

Cultura Digital por Mirian Giacomel


Cultura Digital
Estamos vivendo a era digital, nos encontramos em meio às tecnologias digitais, dormimos e acordamos dependentes do bom funcionamento do mundo digital.
Embora estejamos inseridos no mudo digital, o conceito de cultura digital ainda é amplo e não está consolidado. Aproxima-se de outros conceitos como sociedade da informação, cibercultura, revolução digital, era digital, sempre relacionados às relações humanas, mediadas por  tecnologias e comunicações digitais.
De acordo com autores, pensadores e ativistas, o surgimento da cultura digital é demarcado no pós-guerra, quando tem início o processo de digitalização, materializado no ambiente de processamento de dados que passa a ser dominado por grandes máquinas de computar.
O conceito de cibercultura e inteligência coletiva desenvolvido por Pierre Lévy, sintetiza muito bem este momento, no qual o compartilhamento dos saberes, percepções, imaginação, criatividade e demais habilidades individuais permitem o aprendizado coletivo, construindo novos conhecimentos.
O sociólogo espanhol Manuel Castells, em dossiê publicado pela revista Telos, mantida pela Fundación Telefónica, define a cultura digital em seis tópicos:
1. Habilidade para comunicar ou mesclar qualquer produto baseado em uma linguagem comum digital;
2. Habilidade para comunicar desde o local até o global em tempo real e, vice-versa, para poder diluir o processo de interação;
3. Existência de múltiplas modalidades de comunicação;
4. Interconexão de todas as redes digitalizadas de bases de dados ou a realização do sonho do hipertexto de Nelson com o sistema de armazenamento e recuperação de dados, batizado como Xanadú, em 1965;
5. Capacidade de reconfigurar todas as configurações criando um novo sentido nas diferentes camadas dos processo de comunicação;
6. Constituição gradual da mente coletiva pelo trabalho em rede, mediante um conjunto de cérebros sem limite algum. Neste ponto, me refiro às conexões entre cérebros em rede e a mente coletiva.
Os pesquisadores e ativistas Bianca Santana e Sergio Amadeu da Silveira durante a participação do Seminário Internacional de Diversidade Cultural sistematizaram um texto  que conceitua cultura digital:
“Reunindo ciência e cultura, antes separadas pela dinâmica das sociedades industriais, centrada na digitalização crescente de toda a produção simbólica da humanidade, forjada na relação ambivalente entre o espaço e o ciberespaço, na alta velocidade das redes  informacionais, no ideal de interatividade e de liberdade recombinante, nas práticas de simulação, na obra inacabada e em inteligências coletivas, a cultura digital é uma realidade de uma mudança de era. Como toda mudança, seu sentido está em disputa, sua aparência caótica não pode esconder seu sistema, mas seus processos, cada vez mais auto-organizados e emergentes, horizontais, formados como descontinuidades articuladas, podem ser assumidos pelas comunidades locais, em seu caminho de virtualização, para ampliar sua fala, seus costumes e seus interesses. A cultura digital é a cultura da contemporaneidade”.
 Gilberto Gil, quando esteve à frente do Ministério da Cultura, participou de inúmeros eventos voltados à discussão da cultura forjada pelas redes interconectadas, pelos recursos digitais. Em uma de suas falas mais marcante, proferida na Universidade de São Paulo, Gil tentou conceituar o que seria a cultura digital:
“Novas e velhas tradições, signos locais e globais, linguagens de todos os cantos são bem-vindos a este curto-circuito antropológico. A cultura deve ser pensada neste jogo, nessa dialética permanente entre tradição e invenção, nos cruzamentos entre matrizes muitas vezes milenares e tecnologias de ponta, nas três dimensões básicas de sua existência: a dimensão simbólica, a dimensão de cidadania e inclusão, e a dimensão econômica. Atuar em cultura digital concretiza essa filosofia, que abre espaço para redefinir a forma e o conteúdo das políticas culturais, e transforma o Ministério da Cultura em ministério da liberdade, ministério da criatividade, o ministério da ousadia, ministério da contemporaneidade. Ministério, enfim, da Cultura Digital e das Indústrias Criativas. Cultura digital é um conceito novo. Parte da ideia de que a revolução das tecnologias digitais é, em essência, cultural. O que está implicado aqui é que o uso de tecnologia digital muda os comportamentos. O uso pleno da Internet e do software livre cria fantásticas possibilidades de democratizar os acessos à informação e ao conhecimento, maximizar os potenciais dos bens e serviços culturais, amplificar os valores que formam o nosso repertório comum e, portanto, a nossa cultura, e potencializar também a produção cultural, criando inclusive novas formas de arte”.
É impossível negar a presença da digitalização em nossas vidas. A priori, é sem dúvida, sinônimo de praticidade, agilidade, precisão...  e realmente o é. É perceptível que a digitalização facilitou a vida de todos, nos mais variados aspectos. O que não fica de imediato explícito é o seu lado nocivo. Focamos primeiramente no imediato conforto e rapidez com que conseguimos os bons resultados em decorrência da informatização/digitalização.
Tomando como exemplo a área da Educação, é bastante nítida a transformação. Estudantes expostos à era digital a todo momento conseguem não manter o foco no aprender, e sim, na busca de muitas informações e que no final não  as processam de forma a transformá-las em conhecimento. Parece ter se tornado necessário ensinar em sala de aula com  recursos tecnológicos e passou-se a entender que as práticas metodológicas estão  relacionadas ao uso das tecnologias. O que nos preocupa um pouco é que cada vez mais temos jovens distanciados da leitura e da prática do escrever corretamente. Se impedidos de acessar os aparelhos digitais, muitos se “perdem”, ficando sem saber como proceder para relatar, redigir e compor um texto bem escrito sem um corretor virtual.
Se observarmos o âmbito das relações humanas, também nos deparamos com uma situação bastante controversa. Ao mesmo passo que a era digital nos permite acesso a informações acerca de pessoas distantes, notícias na hora em que o fato acontece, rapidez nos recados, também percebemos que as relações de pessoas próximas tem sido afetadas. Exemplo disso são as amizades virtuais, o namoro virtual, o comércio virtual. É de todo ruim? Não necessariamente, mas sem dúvida uma forma de dispensar a aproximação afetiva, o toque, o olhar, a sensibilidade humana, a observação do detalhe, a oportunidade da percepção e o melhor conhecimento do caráter e sentimento do outro.
Assim como a cultura digital inclui, ela também procede de forma excludente. Quando pessoas mais velhas que não tiveram acesso à instrução deparam-se com  situações tecnológicas. Nem todos são contemplados pela facilidade que a digitalização pode oferecer. Carros modernos, máquinas modernas digitalizadas. Muitos ainda não sabem como proceder para fazer uso, então se expostos a estas realidades, ocorre certa forma de exclusão. Além disso, muitas pessoas até utilizam os recursos digitais, mas não de forma correta, podendo tornar-se um inconveniente. Podemos citar aqui a evolução da letra da música de Gil “internet 2” evolução e transformação.
Enfim, negar a presença da era digital, da cultura digital que se faz presente e se intensifica cada vez mais é impossível. O que resta é saber utilizá-la, buscar aperfeiçoar-se e ter limite de seu uso, ou seja, saber até que ponta ela traz benefícios e o que ela pode atrapalhar no processo de vida e de todas as atividades humanas.
Eu com onze anos de idade mal sabia usar um telefone, o principal meio de comunicação era o rádio, vinte anos se passaram e hoje as inúmeras ferramentas digitais nos permitem compartilhar conhecimentos e informações diariamente.


Mirian Giacomel
Polo São Miguel do Oeste

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