quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Cultura digital, cultura ou contracultura?


Cultura Digital por Marcos Iser
Nascido na década de 70 e sobrevivente ao “modus vivendi hard core” temperado com as siglas sexo drogas e rock’n’roll dos anos 90, tive uma educação baseada na cultura analógica, leitor ávido de livros, de gibis em quadrinhos, revistas de contracultura e ativista de manifestações artísticas e anarquistas recheadas da ideologia punk e transformadora dos valores sociais, guitarras e amplificadores de som elétricos, verifico que a cultura analógica difere muitíssimo da cultura digital na questão do uso do tempo e dos recursos de comunicação e de arquivo de material científico, histórico, intelectual e artístico.
A cultura digital atropelou a minha geração (na verdade toda esta cultura foi criada e desenvolvida por esta mesmíssima geração) e hoje, vivenciamos um momentum que nos faz ser conectados tanto tempo quanto possível, acelerando processos, reduzindo o tempo de respostas e tomadas de decisões, milhares de recursos disponíveis na internet para análise, avaliação e aprofundamento de temas específicos à uma velocidade incrível que por vezes torna-se um titã e nos exige atenção e energia para usar com sabedoria e não tornarmos escravos desta cultura.
Como amante de música a cultura digital nos legou as ferramentas do You Tube, que eu acho  formidável, um acervo digital imenso de vídeos épicos de shows, músicas de gravações ripadas e digitalizadas, que há pouco menos de 50 anos eram raríssimas, hoje estão disponíveis gratuitamente, praticamente salvas da degradação analógica e da perda de arquivos físicos, na minha humilde opinião o You Tube é a maior riqueza na internet do universo musical, cinematográfico e todas as artes desfrutam desta tecnologia.
A cultura digital, portanto, é a evolução natural do processo social dentro do universo da globalização cultural do homem moderno, é a resposta e a solução para as dificuldades e as limitações encontradas dos processos analógicos.
Acredito que a maior contribuição da internet para a interação cultural e a universalização de conhecimento tenha sido através da inteligência coletiva, aonde permitiu o fácil acesso e intercâmbio simultâneo de vários profissionais da mesma área para criação de material específico, evoluindo e acelerando os processos de pesquisa, sintaxe e produção intelectual de forma coletiva promovendo a cultura participativa utilizando a convergência de meios com mais eficácia e eficiência.
A evolução da cultura digital em todos os segmentos da sociedade, provocam o desafio de pensar: Como este processo influencia nossos dias, qual sua influência na rotina, quais os desafios à serem estudados para tornar este processo positivo e reduzir assim os danos já observados e postulados por inúmeras pesquisas, na citação do Gilberto Gil “ estamos presos numa rede”, qual seria a medida equilibrada para não privar este avanço sem danificar as relações com a privacidade ou a intimidade dos usuários?
Neste olhar verificamos que Pierre Levy sustenta justamente o ponto em que a cibercultura está intrínseca em todas as manifestações culturais, seja como forma de propagação, manutenção ou desdobramento desta, num processo sem retorno, na qual o indivíduo aprende a lidar com as várias interfaces disponibilizadas nos inúmeros artefatos e equipamentos que fazem parte da rotina diária do homem contemporâneo, exigindo uma adequação psicossocial à esta onda cibernética, sob pena de exclusão se não dominar as ferramentas deste universo.
Neste ponto fica a pergunta dentro deste universo globalizado com todas as tendências e dissidências das diversidades possíveis neste emaranhado de ideias, ideais e culturas:
Somos todos um?  


Por: Marcos Iser

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