Cultura Digital por Marcos Iser
Nascido na década de 70 e sobrevivente ao “modus vivendi
hard core” temperado com as siglas sexo drogas e rock’n’roll dos anos 90, tive
uma educação baseada na cultura analógica, leitor ávido de livros, de gibis em
quadrinhos, revistas de contracultura e ativista de manifestações artísticas e anarquistas
recheadas da ideologia punk e transformadora dos valores sociais, guitarras e
amplificadores de som elétricos, verifico que a cultura analógica difere muitíssimo
da cultura digital na questão do uso do tempo e dos recursos de comunicação e
de arquivo de material científico, histórico, intelectual e artístico.
A cultura digital atropelou a minha geração (na verdade toda
esta cultura foi criada e desenvolvida por esta mesmíssima geração) e hoje,
vivenciamos um momentum que nos faz ser conectados tanto tempo quanto possível,
acelerando processos, reduzindo o tempo de respostas e tomadas de decisões,
milhares de recursos disponíveis na internet para análise, avaliação e aprofundamento
de temas específicos à uma velocidade incrível que por vezes torna-se um titã e
nos exige atenção e energia para usar com sabedoria e não tornarmos escravos
desta cultura.
Como amante de música a cultura digital nos legou as
ferramentas do You Tube, que eu acho formidável, um acervo digital imenso de vídeos
épicos de shows, músicas de gravações ripadas e digitalizadas, que há pouco menos
de 50 anos eram raríssimas, hoje estão disponíveis gratuitamente, praticamente
salvas da degradação analógica e da perda de arquivos físicos, na minha humilde
opinião o You Tube é a maior riqueza na internet do universo musical,
cinematográfico e todas as artes desfrutam desta tecnologia.
A cultura digital, portanto, é a evolução natural do
processo social dentro do universo da globalização cultural do homem moderno, é
a resposta e a solução para as dificuldades e as limitações encontradas dos
processos analógicos.
Acredito que a maior contribuição da internet para a
interação cultural e a universalização de conhecimento tenha sido através da
inteligência coletiva, aonde permitiu o fácil acesso e intercâmbio simultâneo
de vários profissionais da mesma área para criação de material específico,
evoluindo e acelerando os processos de pesquisa, sintaxe e produção intelectual
de forma coletiva promovendo a cultura participativa utilizando a convergência
de meios com mais eficácia e eficiência.
A evolução da cultura digital em todos os segmentos da
sociedade, provocam o desafio de pensar: Como este processo influencia nossos
dias, qual sua influência na rotina, quais os desafios à serem estudados para
tornar este processo positivo e reduzir assim os danos já observados e
postulados por inúmeras pesquisas, na citação do Gilberto Gil “ estamos presos
numa rede”, qual seria a medida equilibrada para não privar este avanço sem
danificar as relações com a privacidade ou a intimidade dos usuários?
Neste olhar verificamos que Pierre Levy sustenta justamente
o ponto em que a cibercultura está intrínseca em todas as manifestações
culturais, seja como forma de propagação, manutenção ou desdobramento desta,
num processo sem retorno, na qual o indivíduo aprende a lidar com as várias
interfaces disponibilizadas nos inúmeros artefatos e equipamentos que fazem
parte da rotina diária do homem contemporâneo, exigindo uma adequação psicossocial
à esta onda cibernética, sob pena de exclusão se não dominar as ferramentas deste
universo.
Neste ponto fica a pergunta dentro deste universo
globalizado com todas as tendências e dissidências das diversidades possíveis
neste emaranhado de ideias, ideais e culturas:
Somos todos um?
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