sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Cultura Digital por Thiago Luiz da Silva


A sociedade está em constante mudança. É uma frase antiga, mas nunca foi tão marcante como nos dias atuais. A mudança de um formato em que a comunicação era limitada pelo espaço físico que vivíamos e que dependíamos de informações massificadas e conhecimentos direcionados para um mundo conectado por múltiplos meios onde todo o individuo participa ativamente na construção do conhecimento fazendo uso das novas ferramentas tecnológicas nos leva a uma mudança de cultura, deixando o pensamento industrializado para traz e vivendo em uma nova cultura, a cultura digital.
O desenvolvimento tecnológico e a conexão com o mundo nos levaram a uma mistura de culturas e experiências que mudou o formato de aprendizagem do individuo. Enquanto que antigamente a informação era massificada por um grupo seleto de fontes formando uma estrutura um para muitos, atualmente é disseminada de muitos para muitos. Esses novos horizontes de aceso, circulação e divulgação de conhecimentos nos levou a mudanças profundas de atitudes, práticas e valores, ou seja, uma mudança de cultura que utiliza como ferramenta principal a infraestrutura tecnológica.
Essa cultura digital acaba nos levando ao desenvolvimento de novos conceitos, um deles é a convergência de meios, a possibilidade que a conexão entre diversas mídias possibilitou que uma mesma informação pudesse ser disseminada de formas distintas de acordo com o publico-alvo desejado. Uma mesma informação pode ser representada por textos, imagens, vídeos e som atingindo vários aparelhos sensoriais diferentes. Essa forma de criar e consumir conteúdos mexendo com os sentimentos do indivíduo o motiva a participar desse movimento.
Assim nasce a cultura participativa. Ela demonstra que vivemos em um momento onde as pessoas não desejam mais estar em frente a TV passivamente aguardando um conteúdo produzido por uma pequena fração de pessoas de forma massificada. O indivíduo agora quer fazer parte da produção e a facilidade de acesso aos meios tecnológicos possibilita a qualquer um divulgar seus pensamentos, fotos, vídeos ou qualquer outra forma de expressão para milhares de pessoas espalhadas pelo mundo.
Essa possibilidade de divulgar sua visão de mundo somada aos demais usuários da rede nos leva a inteligência coletiva. Substituindo um padrão anterior, onde alguns especialistas detinham o conhecimento e este conhecimento se limitava a alguns alunos, hoje o conhecimento está aberto, testado e adaptado por diversos personagens em diversas situações diferentes construindo uma grande enciclopédia online. A possibilidade de distribuir o conhecimento que cada um possui em um local coletivo cria uma fonte de informações que jamais seria dominada por um único indivíduo.
Fazendo uma analogia a música de Gilberto Gil de 1996, Pela internet, e a sua segunda versão 20 anos depois, podemos fazer um pequeno exercício para refletir sobre estas mudanças.
Em 1996 Gilberto Gil vislumbrava um mundo novo, ainda não popularizado. As informações ainda eram novidades mal compreendidas pela maioria da população. A conexão ainda não era tão eficiente e a transferência de arquivos ainda por mídia física ainda era uma realidade forte no dia a dia dos mais tecnológicos. Já neste tempo Gilberto já levantava dúvidas a questão de crimes que também foram aperfeiçoados pela rede expandindo seus domínios
Na segunda versão, 20 anos depois, o assunto internet e tecnologia já se demonstra conhecido pelo público geral. Até mesmo leigos no assunto já possuem uma interação quase obrigatória na rede. Pessoas de todas as idades não conseguem mais viver sem a conexão. Qualquer coisa é feita rapidamente pela internet, a quantidade de informação, de aplicativos e de possibilidades é tão grande que é possível se perder e ficar "Preso na rede" com diz a letra da música. Enquanto que a rede era apenas uma novidade para antenados em 1996, hoje é praticamente impossível ou pelo menos desanimador e retrogrado viver fora dela.
                É impossível falar de cultura digital sem falar de Pierre Lévy, que estudou e se especializou nesta área. Seu trabalho fundamental relaciona dois conceitos importantes: inteligência coletiva e ciberespaço. Relacionando o que foi estudado acima, Lévy defende que todo o indivíduo possui sua própria inteligência baseada na sua história e suas experiências pessoais e que deve ser respeitada por isso. Esses conhecimentos adquiridos ao longo da vida servem como um modo de interação social, por ser capaz de criar uma espécie de democracia devido às possibilidades de interação entre os indivíduos.
Lévy também traça suas percepções sobre a o crescimento do ciberespaço, baseado no novo meio de comunicação que surgia da conexão entre computadores e o consequente surgimento da cibercultura. Lévy dizia que a cibercultura expressava o surgimento de um novo momento, diferente dos que o antecederam, pois agora este momento é criado de maneira globalizada e indeterminada.
Lévy também aborda o fato de que a sociedade se encontra condicionada a técnica, mas não determinada por ela. Esta afirmação nos permite perceber a relação existente entre a sociedade e a tecnologia é de extrema interligação, demonstrando que a sociedade se constitui historicamente pela técnica, porém não é determinada por ela.

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