O texto que segue é um breve es bolso sobre o
SeSo em sua fase inicial. O Serviço Social surge para explicar a pobreza, não
para eliminá-la, mas para afirmar que a sua causa principal está na ausência do
desenvolvimento capitalista. Portanto dentro desta perspectiva, o conflito
central se dá na modernização da sociedade, e, que ao realizá-la existirá uma
maior equidade social – um claro deslocamento da contradição na relação
capital/ trabalho. Nas áreas rurais existem um conjunto de normas, regras,
valores etc., que asseguram certas formas tradicionais de vida, que no geral
não permitem que as pessoas se autor referenciem, apenas as sigam - a religião
é um exemplo desses mecanismos de integração. A modernização se dava em duas
formas, mas com mesmo objetivo: 1º industrializar para o desenvolvimento do
capital; 2º modernizar os costumes, as tradições, um processo de adaptação ao
capitalismo. O processo de modernização, que tinha como pano de fundo o
desenvolvimento da indústria e na mudança dos costumes. Era necessário
desenvolver profissionais técnicos que iriam atuar obedecendo tal padrão de
desenvolvimento, e, quem passa a cumprir este papel são os profissionais do
serviço social. O serviço social tradicional irá desenvolver essas práticas de
integração social, ou seja, irá cumprir este papel de assegurar a adaptação e
subordinação aos novos costumes orientados à modernização capitalista. O
assistente social a partir dessa forma de atuação, posteriormente passa a ser
definido como o agente da mudança social, entenda-se, esta mudança consiste na
modernização da vida social.
Natálio Kisnermann em sua primeira fase,
apontava ser exatamente essa tarefa do profissional do serviço social. Em sua
segunda fase – digamos assim – acompanhando a movimentação da crítica ao
serviço social tradicional, o que fico conhecido como o movimento da
reconceptualização do serviço social, ocorrido em toda a América Latina, com
maior força política entre os anos de 1965 a 1975. Existia todo um
questionamento em diversas localidades, inclusive na Europa, a
reconceptualização se nutre de todo o estado de ânimo e movimentação popular –
exemplo, o Maio francês de 1968 - de crítica a ordem social.
Segundo Kisnermann, era preciso pensar a
América Latina a partir de uma teoria social nossa, ou seja, pensar uma nova
ciência social. O pensamento de Kisnermann possuía alguns eixos principais: a
descoberta da ideologia; a identidade da América Latina; a necessidade de uma
nova ciência social; e uma vertente contra a atuação no Estado. Propõe sete estudos
para a ruptura com o serviço social tradiconal como um caminho para os novos
desafios: 1. o estudo do processo histórico do serviço social; 2. o
conhecimento dentro da dialética da relação entre sujeito e objeto, em uma
relação de práxis; 3. o objeto onde devem ser convertidas as disciplinas
social; 4. o sujeito e os espaços de atuação: grupo, instituição ou comunidade;
5. diagnosticar as necessidades sociais e desenvolver açoes concretas; 6 e 7.
desenvolver a nova metodologia científica do serviço social.
Segundo J.P. Netto, os vetores que explicam a
crise do Serviço Social tradicional na América Latina é a crise do Serviço
Social tradicional que só poderá ser entendida se a abordarmos dentro das
relações sociais de produção capitalistas, no contrário correremos o risco de
realizarmos uma análise endogenista da profissão. O capitalismo a partir de
fins de 1960 começa a dar sinais de esgotamento e produz consequências
destruidoras em fins do século XX para as condições da maioria da população.
Com isso produzirá uma reconfiguração da função do Estado; alterações no modelo
de produção – a grande substituição de força de trabalho por máquinas,
produzindo o desemprego estrutural, pondo fim ao plano de pleno emprego
fordista-keynesiano. Com isso produz-se um redirecionamento dos gastos
públicos, a fim de atender as demandas do capital, provocando uma diminuição no
orçamento com os gastos no sistema de proteção social, aumentando as
contribuições dos assalariados e diminuindo as dos empregadores. O que leva o
aumento dos impostos pagos pelos trabalhadores e em disparidade a isso, a
redução dos gastos com as políticas sociais, provocando o aumento das
desigualdades sociais, concentrando ainda mais a riqueza socialmente produzida.
Netto (2008, p. 05-19) nos aponta como três vetores para a crise do serviço
social tradicional: primeiro vetor foi impulsionado pela crise das ciências
sociais na academia, o paradigma da análise social americana – o estrutural
funcionalismo; o segundo vetor fora a renovação da igreja católica; o terceiro
foi o movimento estudantil. Para a sociologia estrutural-funcionalista, os
indivíduos são treinados para desempenhar certos papeis determinados
previamente pela sociedade. A capacidade fundamental do indivíduo se dá em
internalizar as normas e valores que existem na sociedade – o indivíduo deve
aprender o papel que se espera dele. No contrário, caso o indivíduo não consiga
desenvolver determinados papeis, significa que houve uma incapacidade
individual para o aprendizado. Portanto, deverá buscar formas terapêuticas (uma
espécie de reeducação) para refazer/ ressocializar esse/s indivíduos – esse
processo é cumprido pelo assistente social. O serviço social tradicional entra
em crise pelo conjunto de acontecimentos que não mais respondia os interesses e
demandas da América Latina. Junto a isso surge a necessidade de pensar e
assegurar uma profissão laica, uma vez que esta profissão mantinha em certa
medida sob a influência da igreja católica - nesse sentido que o processo de
renovação influenciou o serviço social. A renovação se deu no II Concílio
Vaticano entre os anos de 1962 e 1965, pois a igreja vinha perdendo sua posição
social, e esta foi uma tentativa de renovar a igreja em uma sociedade moderna.
Neste Concílio a igreja opta preferencialmente pelos pobres – ao realizar tal
opção está reconhecendo que até então a opção era pelas classes dominantes.
Esse processo vai produzir novas práticas da igreja que tendem contribuir para
a libertação. No serviço social existem algumas práticas vinculadas à caridade,
filantropia, benemerência e, quando a igreja passa a direcionar sua prática
para a libertação, causa impacto direto na referida profiisão. Outra importante
experiência que teve origem a partir da influência da renovação da igreja foi a
educação popular. Essas mudanças também possibilitou a aproximação de alguns
padres ao pensamento marxista, o que resultou na teoria da libertação. O
terceiro vetor fora o movimento estudantil que, junto à crise do modelo
nacional desenvolvimentista; a falta de perspectivas dos jovens que estavam nas
universidades e escolas de formação profissional; a crise com o operariado e
com os camponeses. Todos esses acontecimentos contribuíram para os processos de
efervescência do movimento estudantil. Foram os estudantes que tinham
militância política que aproximou o serviço social das ideias marxistas, e ao
ser travado o debate dessas ideias que aos poucos foi sendo alterada a matriz
curricular da profissão.
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