terça-feira, 12 de março de 2019

Minha profissão e os recursos educacionais abertos por Ernestina Rodrigues De Morais




O texto que segue é um breve es bolso sobre o SeSo em sua fase inicial. O Serviço Social surge para explicar a pobreza, não para eliminá-la, mas para afirmar que a sua causa principal está na ausência do desenvolvimento capitalista. Portanto dentro desta perspectiva, o conflito central se dá na modernização da sociedade, e, que ao realizá-la existirá uma maior equidade social – um claro deslocamento da contradição na relação capital/ trabalho. Nas áreas rurais existem um conjunto de normas, regras, valores etc., que asseguram certas formas tradicionais de vida, que no geral não permitem que as pessoas se autor referenciem, apenas as sigam - a religião é um exemplo desses mecanismos de integração. A modernização se dava em duas formas, mas com mesmo objetivo: 1º industrializar para o desenvolvimento do capital; 2º modernizar os costumes, as tradições, um processo de adaptação ao capitalismo. O processo de modernização, que tinha como pano de fundo o desenvolvimento da indústria e na mudança dos costumes. Era necessário desenvolver profissionais técnicos que iriam atuar obedecendo tal padrão de desenvolvimento, e, quem passa a cumprir este papel são os profissionais do serviço social. O serviço social tradicional irá desenvolver essas práticas de integração social, ou seja, irá cumprir este papel de assegurar a adaptação e subordinação aos novos costumes orientados à modernização capitalista. O assistente social a partir dessa forma de atuação, posteriormente passa a ser definido como o agente da mudança social, entenda-se, esta mudança consiste na modernização da vida social.
Natálio Kisnermann em sua primeira fase, apontava ser exatamente essa tarefa do profissional do serviço social. Em sua segunda fase – digamos assim – acompanhando a movimentação da crítica ao serviço social tradicional, o que fico conhecido como o movimento da reconceptualização do serviço social, ocorrido em toda a América Latina, com maior força política entre os anos de 1965 a 1975. Existia todo um questionamento em diversas localidades, inclusive na Europa, a reconceptualização se nutre de todo o estado de ânimo e movimentação popular – exemplo, o Maio francês de 1968 - de crítica a ordem social.
Segundo Kisnermann, era preciso pensar a América Latina a partir de uma teoria social nossa, ou seja, pensar uma nova ciência social. O pensamento de Kisnermann possuía alguns eixos principais: a descoberta da ideologia; a identidade da América Latina; a necessidade de uma nova ciência social; e uma vertente contra a atuação no Estado. Propõe sete estudos para a ruptura com o serviço social tradiconal como um caminho para os novos desafios: 1. o estudo do processo histórico do serviço social; 2. o conhecimento dentro da dialética da relação entre sujeito e objeto, em uma relação de práxis; 3. o objeto onde devem ser convertidas as disciplinas social; 4. o sujeito e os espaços de atuação: grupo, instituição ou comunidade; 5. diagnosticar as necessidades sociais e desenvolver açoes concretas; 6 e 7. desenvolver a nova metodologia científica do serviço social.
Segundo J.P. Netto, os vetores que explicam a crise do Serviço Social tradicional na América Latina é a crise do Serviço Social tradicional que só poderá ser entendida se a abordarmos dentro das relações sociais de produção capitalistas, no contrário correremos o risco de realizarmos uma análise endogenista da profissão. O capitalismo a partir de fins de 1960 começa a dar sinais de esgotamento e produz consequências destruidoras em fins do século XX para as condições da maioria da população. Com isso produzirá uma reconfiguração da função do Estado; alterações no modelo de produção – a grande substituição de força de trabalho por máquinas, produzindo o desemprego estrutural, pondo fim ao plano de pleno emprego fordista-keynesiano. Com isso produz-se um redirecionamento dos gastos públicos, a fim de atender as demandas do capital, provocando uma diminuição no orçamento com os gastos no sistema de proteção social, aumentando as contribuições dos assalariados e diminuindo as dos empregadores. O que leva o aumento dos impostos pagos pelos trabalhadores e em disparidade a isso, a redução dos gastos com as políticas sociais, provocando o aumento das desigualdades sociais, concentrando ainda mais a riqueza socialmente produzida. Netto (2008, p. 05-19) nos aponta como três vetores para a crise do serviço social tradicional: primeiro vetor foi impulsionado pela crise das ciências sociais na academia, o paradigma da análise social americana – o estrutural funcionalismo; o segundo vetor fora a renovação da igreja católica; o terceiro foi o movimento estudantil. Para a sociologia estrutural-funcionalista, os indivíduos são treinados para desempenhar certos papeis determinados previamente pela sociedade. A capacidade fundamental do indivíduo se dá em internalizar as normas e valores que existem na sociedade – o indivíduo deve aprender o papel que se espera dele. No contrário, caso o indivíduo não consiga desenvolver determinados papeis, significa que houve uma incapacidade individual para o aprendizado. Portanto, deverá buscar formas terapêuticas (uma espécie de reeducação) para refazer/ ressocializar esse/s indivíduos – esse processo é cumprido pelo assistente social. O serviço social tradicional entra em crise pelo conjunto de acontecimentos que não mais respondia os interesses e demandas da América Latina. Junto a isso surge a necessidade de pensar e assegurar uma profissão laica, uma vez que esta profissão mantinha em certa medida sob a influência da igreja católica - nesse sentido que o processo de renovação influenciou o serviço social. A renovação se deu no II Concílio Vaticano entre os anos de 1962 e 1965, pois a igreja vinha perdendo sua posição social, e esta foi uma tentativa de renovar a igreja em uma sociedade moderna. Neste Concílio a igreja opta preferencialmente pelos pobres – ao realizar tal opção está reconhecendo que até então a opção era pelas classes dominantes. Esse processo vai produzir novas práticas da igreja que tendem contribuir para a libertação. No serviço social existem algumas práticas vinculadas à caridade, filantropia, benemerência e, quando a igreja passa a direcionar sua prática para a libertação, causa impacto direto na referida profiisão. Outra importante experiência que teve origem a partir da influência da renovação da igreja foi a educação popular. Essas mudanças também possibilitou a aproximação de alguns padres ao pensamento marxista, o que resultou na teoria da libertação. O terceiro vetor fora o movimento estudantil que, junto à crise do modelo nacional desenvolvimentista; a falta de perspectivas dos jovens que estavam nas universidades e escolas de formação profissional; a crise com o operariado e com os camponeses. Todos esses acontecimentos contribuíram para os processos de efervescência do movimento estudantil. Foram os estudantes que tinham militância política que aproximou o serviço social das ideias marxistas, e ao ser travado o debate dessas ideias que aos poucos foi sendo alterada a matriz curricular da profissão.


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